top of page

AUGUSTA, 791 – CASARÃO

 

Sexta-feira, 23 horas e 32 minutos. Descendo a Augusta, uma infinidade de casas noturnas, todas com portas repletas de jovens, fazem da Rua paulistana o local agitado e movimentado de sempre.  Já no Baixo Augusta, passando a Rua Peixoto Gomide, no número 791, o letreiro do pequeno edifício indica o famoso Casarão American Bar. A casa, conhecida por receber homens que pagam por sexo, cobra R$ 20 para a entrada com direito a uma cerveja ou R$ 70 consumação. Resolvemos entrar para conhecer o que acontece por trás daquela entrada discreta e, que diferente dos bares e restaurantes a poucos metros dali, não tinha aglomerações do lado de fora.

 

Ainda na porta, uma pequena placa indicava que até meia noite, a entrada de mulheres era VIP e depois do horário, seria cobrado um valor de R$ 100. Sem saber do que se tratava, questionamos o pagamento dos R$ 20 para a recepcionista. “Os valores da plaquinha servem para quem for trabalhar na casa.” A casa cobra esse valor pela entrada das profissionais do sexo. Recebemos uma comanda branca no valor dos R$ 20, que pagaríamos somente na saída, e entramos.

 

Uma música alta de balada tocando. Com muitos espelhos e luzes coloridas, o ambiente ainda vazio no começo da noite, já tem algumas meninas dançando e bebendo. De vários estilos, todas usam roupas curtas, algumas apenas roupas íntimas, e dominam o espaço. Únicas mulheres lá dentro, além delas, recebemos alguns olhares de reprovação.

 

As horas passam e a casa vai lotando. Além de pagar os R$ 100 para poder trabalhar, elas recebem uma comanda similar a nossa, porém, preta. Conversando com o barman, descobrimos que elas precisam fazer os homens com que se relacionam consumir o máximo possível para fazer a casa lucrar. E os preços não são baratos, uma cerveja custa R$ 7.

 

Na maior parte das vezes, a aproximação começa por parte delas, que precisam fazer os programas para compensar o gasto com o valor cobrado na entrada. Cada uma cobra o valor que julgar justo, normalmente entre R$150 e R$200. Quando o cliente se interessa e resolve pagar, eles sobem para os quartos no andar superior.

Além do valor do programa, o cliente deve pagar um valor cobrado pela casa pelo uso do quarto e na saída ainda é tarifado em 10%. Dessa forma, a casa consegue lucrar sobre o trabalho das profissionais.

 

O Casarão funciona abertamente durante as madrugadas de São Paulo. Casas que funcionam no mesmo estilo podem ser consideradas facilitadoras da exploração sexual? Algo mudaria com a legalização da profissão?

 

                             CONFIDENCIAL

 

Em outra ocasião, conversamos com um taxista que não quis se identificar. Ele nos confidenciou sobre como a sua profissão está indiretamente envolvida com a prostituição ao relatar um esquema envolvendo hotéis de alto padrão de São Paulo e casas noturnas conhecidas como boates para adultos.

 

Hotéis, como o renomado Renaissance, localizado na Alameda Santos, em bairro nobre da capital paulista, hospedam todos os dias altos executivos, inclusive de fora do país. Muitas vezes, à procura de diversão na noite paulistana, recorrem à prostituição de luxo.

Esse tipo de boate costuma ter preços bem diferentes dos encontrados por nós no popular Casarão, assim como o valor dos programas é bem mais elevado. A conhecida Bamboa, por exemplo, localizada na Rua Capote Valente, em Pinheiros, a entrada fica em torno de R$ 200 e ir para os quartos com alguma das profissionais do sexo não sai por menos de R$500.

 

“Para não chamar atenção, os hóspedes contam com mais do que discrição, contam com a ajuda do hotel.” Alguns taxistas fazem a conexão desses hóspedes com a casa noturna e suas “garotas”. Ele pode tanto levar a prostituta até o hotel, como o hóspede até a casa noturna, prática mais comum.

 

Como normalmente os clientes não sabem aonde ir, fica a cargo do taxista – chamado propositalmente pelos funcionários do hotel que já sabem da intenção do cliente – levá-lo ao “melhor lugar com as mulheres mais bonitas”. Dentre tantas opções, o taxista escolhe aquelas com as quais tem parceria, lucrando com isso. Quanto mais clientes ele levar, mais ele ganha, de acordo com o combinado estabelecido. A boate Bomboa 222, também na Rua Capote Valente, paga R$ 50 para cada novo cliente que chega com o táxi “parceiro”, enquanto algumas pagam até R$ 120 pelo serviço.

bottom of page